Histórico

Histórico do DX Clube Paulista

Samuel Cássio Martins – São Carlos, São Paulo *

O DXCP teve como inspirador o extinto DX Clube do Brasil, o qual conheci em 1977 ao entrar em contato com seu coordenador Luiz Roberto de Medina da cidade de Recife-PE. Através do antigo DXCB pude tomar contato com o dexismo sério e conhecer expoentes do dexismo brasileiro como: Robert Veltmeijer, Cláudio R.de Moraes, Sérgio D. Partamian, Antônio Ribeiro da Motta, Roberto Levinstein, Rogildo F.Aragão, Gilberto Santos, Emmanuel Tavares entre outros.

O DXCB antigo acabou abruptamente em 1978, seu coordenador desapareceu sem deixar notícias. Seu boletim Comunicação DX, foi também o inspirador dos primeiros boletins do DXCP. Antes de seu encerramento, o DXCB através de Robert Veltmeijer organizou o primeiro encontro de dexistas brasileiros na semana santa do ano de 1978 no Largo do Arouche em São Paulo.

Prof. Robert Veltmeijer - foto de Francisco Turelli

Prof. Robert Veltmeijer – foto de Francisco Turelli

Um pouco antes do encerramento do DXCB, apareceu no Rio Grande do Sul o DX Clube de Porto Alegre organizado por Alencar Aldo Fossa. Outro Clube que existia naquela época e que ainda existe, com outro nome e algumas interrupções, era o DX Clube do Pará, coordenado pelo Djaci Franklin de Belém-PA.

Ainda que tendo um boletim irregular, como também tinham os outros dois Clubes atados, era um boletim com muitos loggings e assuntos muito técnicos. Foi neste meio que me desenvolvi no dexismo e de onde, um pouco mais tarde, viriam a surgir as idéias para a criação do DX Clube Paulista.

No ano de 1980 não existia nenhuma organização dexista no Brasil, as informações eram conseguidas através do WRTH, programas DX das diversas emissoras internacionais, boletins de clubes estrangeiros. Talvez a única manifestação de ligação entre os dexistas brasileiros era feita por Robert Veltmeijer. Ele chegou a editar alguns números de uma circular dexista com loggings e notícias, foi acompanhado por um momento por Emmanuel Tavares Filho, dexista de destaque do Rio de Janeiro.

Robert também encontrava os amigos em sua residência, enviava suas informações por carta aos dexistas brasileiros, participou também da organização do Encontro de dexistas brasileiros e argentinos realizado em Foz do Iguaçu no ano de 1979. Robert sempre esteve em contato, sendo por si mesmo um elo entre os dexistas brasileiros.

Algo que nunca compreendi perfeitamente, foi o fato de que existindo tantos bons dexistas naquele final dos anos 70 e Inicio dos 80, nada foi organizado em termos associativos após o término ou paralisação das três maiores organizações Dexistas do Brasil até aquele momento, DXCB, DXCPOA, DXC do Pará, sobretudo o DXCB que reunia excelentes dexistas em grande quantidade.

Naquela época não conhecia qualquer outro dexista aqui em São Carlos, as coisas eram distantes naqueles tempos. Participei muito de programas de cartas das emissoras internacionais e de listas de correspondentes que estas emissoras mantinham. Eram muitos os contatos com pessoas de outras localidades através de correspondência, no entanto, poucos eram dexistas.

Em meados de 1981 estava eu certo dia no telhado de casa mexendo com antenas, quando minha mãe me chamou dizendo que havia um rapaz me procurando. Era o Márcio R. F. Bertoldi, muito jovem, tinha quinze anos, na época eu estava com vinte e um. O Márcio se apresentou como ouvinte de ondas curtas e dexista, disse que conseguira meu endereço através de uma lista da Rádio Nederland.

Logicamente nossa amizade foi formada rapidamente e muitas informações trocadas. Passei ao Márcio todo aquele breve histórico dos clubes DX no Brasil e comentávamos cada vez mais da necessidade urgente de uma nova organização dexista em nosso país, mas antes de tudo este clube teria que ser realmente ativo, ter um boletim regular que cumprisse um esquema de datas, promover uma participação maior de todos os seus membros e dedicado ao dexismo mais técnico. Fomos desenvolvendo esta idéia e resolvemos por criar este clube.

O DXCP surgiu em Outubro de 1981, a data oficial de sua fundação é 17 de Outubro. Esta foi a data em que o primeiro Atividade DX foi realizado. Contava com um editorial de apresentação e objetivos, loggins, noticias, alguns artigos, e o convite para adesões com a promessa do segundo boletim para Dezembro de 1981. Este realmente saiu naquele mês e ainda não parou.

Quando o primeiro boletim Atividade DX foi editado, o DXCP não tinha qualquer divulgação anterior, sabíamos que as organizações que existiram anteriormente haviam sido muito irregulares, portanto começamos com cautela. Depois de pronto o primeiro Atividade DX, preparamos uma lista de encaminhamento.

Naquela época possuíamos muitos correspondentes, amigos feitos nos programas de cartas das diversas emissoras internacionais. Me lembro de selecionarmos alguns que possuíam um maior interesse para o dxismo e enviamos a estes, bem como a algumas emissoras internacionais. O resultado foi animador pois muitos nos responderam, nos parabenizando pela criação do DX CLUBE PAULISTA, além de se colocarem à nossa disposição para uma maior colaboração. Destaco neste primeiríssimo momento as participações do, colegas Ricardo André Becker e Carlos Roberto Godinho que nos ajudaram bastante, sendo eles, os dois primeiros colaboradores do DXCP fora de São Carlos. Deixamos para um pouco depois o convite de adesão aos dexistas brasileiros mais experientes, algo que viria ser muitíssimo importante e consolidado no DXCP.

O nome DX Clube Paulista foi um derivado daquele momento. Tivemos o DX Clube do Brasil, um nome importante. Com o seu fechamento, outros clubes da época possuíam nomes regionais, este também foi o nosso caso, (e nisto havia sim um sentimento regional em um primeiro momento, mas como mostra a primeira lista de membros, desde o início o DXCP contou com pessoas de todo o Brasil).

Logo no inicio de 1982 escrevemos a muitos dos ex-membros do antigo DXCB. Dexistas como Antônio Ribeiro da Motta, Sérgio D. Partamian, Rogildo F. Aragão, Emannuel Taváres, Gilberto Santos, Cláudio Rotolo de Moraes, Robert Veltmeijer se juntaram a nós. Dexistas na acepção da palavra, contribuíram em muito para a consolidação do DXCP.

Apesar da falta de equipamentos mais sofisticados no dexismo brasileiro daquela época, o nível de escutas era muito alto, este pessoal ao lado de tantos outros que se juntaram a nós atingiram perfeitamente os objetivos propostos pelo DXCP.

Antônio Ribeiro da Motta, além das muitas formas de colaborar com o Atividade DX, é considerado por nós como sendo o terceiro fundador do clube. Seu trabalho de divulgação do novo clube foi incansável. O “Moita”, (como ele era chamado), tinha acesso a diversos clubes importantes do exterior, ao WRTH, diversas emissoras internacionais e com vários importantes dexistas brasileiros. Foi ele quem colocou o nome do DX Clube Paulista no WRTH na época chamado de “A Bíblia dos dexistas”.

Hoje talvez este ato pareça corriqueiro, mas tinha um certo grau de dificuldade naqueles tempos. Isto nos abriu muitos contatos com dexistas, clubes estrangeiros e o nome do DX Clube Paulista se difundiu mundo afora (literalmente). Antônio Ribeiro da Motta foi editor até 1989 encerrando sua participação na coluna Matutando, embrião da atual coluna Rádio Contato. Ele também foi um grande incentivador dos encontros dexistas, teve participação fundamental nos dois maiores encontros da década de oitenta e que ainda figuram entre os maiores realizados até hoje, o encontro de 1987 em São José dos Campos, onde organizou praticamente sozinho em nome do DX Clube Paulista e do Globo DX, encontro este com a participação aproximada de 40 pessoas, inclusive com uma “estrela” das ondas curtas na época, a jornalista e locutora Maria Costa Pinto do Serviço Brasileiro da BBC de Londres.

Em 1988 foi realizado o primeiro ENBRADEX, Encontro Brasileiro de dexistas, realizado em Aparecida – SP. Este encontro contou com o grande incentivo de Robert Veltmeijer que tinha grande interesse na união entre o DXCP e o Globo DX. Vale lembrar que estes encontros aconteceram em uma época em que os serviços internacionais em português ainda tinham muito interesse pelo Brasil.

Entrevistas eram gravadas ao vivo e transmitidas alguns dias depois como a BBC, ou então por telefone e levadas ao ar no mesmo dia como fazia a VOA através do jornalista e locutor Ricardo André. Este foi um dos grandes incentivadores do Dexismo no rádio internacional, conduziu o programa Onda Curta na Rádio RSA da África do Sul e na VOA dos Estados Unidos, deu um apoio muito grande aos clubes dexistas brasileiros.

O DXCP colaborava freqüentemente com o Ricardo André, sendo que quando de sua passagem pela Rádio RSA, chegamos a produzir programas gravados em fita cassete levados ao ar no Onda Curta pela emissora sul-africana. Outros programas dexistas nos quais tivemos freqüentes participações foram: Radio Enlace (R. Nederland), O Mundo das Comunicações (R. Nederland), Editor DX (Rádio Suécia), os programas DX das Rádio Áustria, Exterior de Espanha, BBC de Londres, etc.

Voltando aos encontros realizados pelo DXCP e o Globo DX, estes foram três, o primeiro realizado em 1985 na casa de Robert Veltmeijer em São Paulo. Tivemos por três anos um bom relacionamento e uma co-participação em eventos e interesses. No entanto, após o encontro de Aparecida, as diferenças entre os dois clubes acabaram sobrepondo-se aos esforços em conjunto. Alguns entreveros pessoais entre, membros dos dois clubes acabaram causando rompimento entre as duas associações.

Foto histórica de reunião do Clube

Foto histórica de reunião do Clube

Até emissoras internacionais como a BBC se aproveitaram desta situação. O programa Freqüência DX do serviço brasileiro tentou alimentar uma polêmica no ar. Eu mesmo escrevi à BBC pedindo para que este fato não fosse tema de intrigas. Pedi também para não levarem este assunto adiante.

O Globo DX continuou com o ENBRADEX por mais alguns anos, o DXCP retomou aos seus encontros informais.

Por seis anos o boletim Atividade DX foi bimestral. Existem algumas justificativas para que isto assim fosse. Não existiam tantas facilidades para se obter informações, equipe editorial muito pequena e custos incertos. Passamos por momentos difíceis pois convivemos com inflação muito alta por muitos anos.

Era uma dificuldade estipular um valor de assinatura. Me lembro que começamos com anuidade e a medida que a inflação foi subindo nos anos 60, passamos à semestralidade, trimestralidade, até bimestralidade existiu. Apesar da inflação continuar, (era um inibidor), em Janeiro de 1987 quando o boletim passou a ser mensal, o DXCP tinha crescido bastante, o próprio dexismo se desenvolvera mais no Brasil e precisávamos ter um boletim mensal. Esforços foram feitos, mais colaboradores presentes e as coisas se ajeitaram nesta nova situação.

Algo que ainda restou dos tempos do boletim bimestral foi a equipe editorial pequena. Diferentemente dos dias de hoje, tínhamos um olhar mais centralizado, mas também a disponibilidade de pessoal era menor. Algo que foge da lógica era o fato de eu e o Márcio termos como meta que o boletim Atividade DX “saísse de qualquer jeito”, ou seja, mesmo sem dinheiro ou sem editores o boletim tinha que ser editado. Era algo inconsciente, não tínhamos a intenção de acabar com o clube.

O primeiro logotipo do DX Clube Paulista foi criado por uma pessoa sem nenhum vínculo com o Dexismo, um amigo de São Carlos chamado Orlando Paulo. Mas o desenho que realmente pegou foi criado por Rogildo Fontenelle Aragão em 1984. Rogildo teve uma participação inconstante na primeira fase de nosso clube. Morando por um longo tempo na Bolívia, nem sempre pôde manter o contato, mas ainda assim foi um grande colaborador de nosso boletim. Rogildo editava também o informativo BOLPEBRA DX, um informativo sobre emissoras da Bolívia, Peru e Brasil. Com seu retorno em 1989 ao Brasil, Rogildo foi de grande importância na nova fase que se iniciou em São Bernardo do Campo.

Outro grande incentivador do DXCP foi Sérgio D. Partamian. Ele sempre teve um caráter ponderado, participando muito como um conselheiro, além de excelente dexista e editor por muito tempo da coluna Onda Média. Sérgio sempre esteve presente aos Encontros, reuniões preparatórias ou informais. É um dos principais nomes do DXCP em todos estes anos. Grandes colaboradores de escutas e informações, recordistas certamente de participações nos boletins, foram Cláudio Rotolo de Moraes e Gilberto Santos.

Grandes escutas estes dois nos informavam. Cláudio está conosco ainda hoje e continua colaborando. De maneira super informal, Cláudio sempre nos brindou com escutas muito interessantes, inclusive suas fantásticas escutas de FM, algumas a 5000 km de distância. Gilberto faleceu em 1993. Foi ele um colaborador constante. Além das escutas, traduzia artigos e participou de muitos encontros.

Outros colaboradores e editores de nosso boletim nos primeiros cinco anos foram Jonas Abbud, de Jundiaí-SP e o Raimundo L Bezerra, com rápida passagem e, também, René Gustavo Passold, até hoje junto conosco e que desde 1983 vem colaborando com nossos boletins, encontros e, atualmente, vem sendo muito útil aos dexistas brasileiros por desenvolver a antena RGP3 para onda médias, entre outros projetos. Também um grande colaborador de hoje, que esteve com o DXCP na década de 80, é o amigo Célio Romais, de Porto Alegre-RS.

A segunda metade do DXCP, em São Carlos, nos brindou com uma segunda geração de excelentes dexistas e ótimos colaboradores. Valter Aguiar apareceu em 1985. Além de sua vocação narrativa, editou uma das melhores fases do Panorama DX em nosso boletim. Valter também fazia a Retrospectiva Anual DX, além de participar ativamente dos encontros realizados. Em 1986 apareceu Felipe C. Flosi do Rio de Janeiro.

Ele sempre tinha escutas interessantes, além de colaborar com muito material didático, tradução de textos, comentários técnicos, etc. Carlos Felipe teve um contato muito estreito conosco; inclusive tendo vindo a São Carlos, algo raro. Além dele, apenas o Motta e o Raimundo Bezerra tinham estado em São Carlos naqueles anos.

No final da década de 80 duas figuras muito importantes estavam conosco, o futuro do DXCP estava garantido. Marcelo Toniolo dos Anjos e Carlos Felipe da Silva, os dois dexistas que alguns anos depois iriam assumir o DXCP lançando-o em um novo e glorioso período.

O Marcelo já havia sido membro do clube logo em seu inicio estando entre os vinte primeiros sócios do DXCP, mas se afastando pouco tempo depois. Marcelo foi a pessoa que iniciou um grande trabalho em prol do Dexismo utilitário, lançou também o Manual do Dxismo Utilitário.

Carlos Felipe, ainda bastante jovem, assumiu a coluna QSL logo após o Rudolf deixá-la. Carlos também escrevia artigos e era um colaborador constante. Seu espírito empreendedor já se fazia sentir. O futuro vocês já conhecem. Apesar de todos estes esforços, um certo cansaço se abatia aqui por São Carlos.

O início dos anos noventa foram os piores da primeira fase do DXCP, o nível do boletim caiu muito, tanto em conteúdo quanto em sua parte gráfica, por culpa exclusiva nossa de São Carlos. O número de sócios estagnou, nenhuma atividade além da rotineira. Parece que o fim estava próximo. Ainda que nem sempre de forma constante, o Márcio e eu estivemos a frente do DX Clube Paulista durante 12 anos. Nem sempre constante, pois houve momentos em que um ou outro esteve praticamente sozinho na condução do clube.

Fomos editores de praticamente todas as colunas. Os boletins eram feitos ‘manualmente’, ou seja, loggings por exemplo, colocados em ordem, um a um, com um monte de papel a volta, só para dizer uma das dificuldades.

Para se conseguir notícias na falta de colaborações, muitas vezes tinha-se que ouvir o próprio rádio. Toda a comunicação era feita por carta, longos períodos na expectativa de respostas e na espera de material. Tudo isso era muito cansativo passados tantos anos. Foi quando em meados de 1992, Carlos Felipe começou os planos para coordenar o futuro do DXCB. A partir de janeiro de 1993 o Atividade DX passou a ser editado em São Bernardo do Campo.

* texto adaptado da mensagem dos 17 anos do DXCB