Praticando FMDX no interior
Quem sempre acompanha o desempenho dos dexistas brasileiros na banda de FM, através das páginas do Atividade DX, ou quem apenas dá uma “espiadinha” nos loggings desses dexistas por simples curiosidade já deve ter se perguntado: “Como será que eles conseguem tais escutas?!” Nossos amigos residentes no litoral de Santa Catarina, Dr. Cláudio e Felipe Souto, conhecidos pelas fantásticas escutas que realizam na faixa de FM, responderiam que o sucesso nem sempre depende do equipamento que utilizam, mas sim do fato de estarem sempre no local certo e na hora certa.
Mas, qual é o local e a hora certa para a prática do dexismo em FM (FM-DX)? Será que o fato de nossos dois amigos morarem no litoral – uma região, digamos, “presenteada” com os sinais que viajam a longas distâncias através do mar – é o que determina o sucesso deles? É possível escutar emissoras realmente distantes mesmo morando longe do mar? Minhas experiências mostram que as condições de escuta no interior não ficam nada atrás das encontradas no litoral.
Tanto a região litorânea quanto a interiorana estão sujeitas aos “caprichos” da propagação; aliás, a propagação é um fenômeno do qual todas as modalidades de dexismo dependem. Quanto a isso, o FM tem suas particularidades.
Talvez um dos aspectos mais notáveis da propagação em FM esteja relacionado com a chamada “propagação transequatorial”. O período em que esta ocorre costuma se estender de setembro a abril; durante esses meses é realmente possível a captação de emissoras FM da região do Caribe (Trinidad e Tobago, Martinica, Porto Rico, Guadalupe, Barbados etc) e também do nordeste brasileiro – esta última região mais comum nos cinco anos em que a atividade solar é maior.
Engana-se quem pensa que os efeitos deste tipo de propagação ficam restritos às regiões próximas ao mar. Itambé, a cidade onde moro, fica a 400 Km do litoral do Paraná e isso não impede que eu consiga sintonizar algumas estações caribenhas e nordestinas – às vezes com fortes sinais. Aproveite que a temporada 2001/2002 do período de propagação transequatorial está apenas começando e faça algumas tentativas; com uma boa dose de paciência e persistência, tenho certeza que os resultados aparecerão.
Uma dica interessante diz respeito à abertura da propagação, esta geralmente ocorre a partir das 0 horas UTC ( 9 horas em Brasília) ou mesmo antes e pode se estender até às 2 ou 3 horas UTC. Preste atenção em alguns sinais! Em meus DXs notei que a banda de FM fica super agitada cada vez que a propagação começa a abrir para que entrem os sinais das rádios caribenhas e nordestinas; a faixa fica congestionada de sinais espúrios (principalmente nas freqüências mais baixas) que vão ficando cada vez mais nítidos. Ano passado, sem o auxílio de uma poderosa antena ou de um receptor ideal, tive a oportunidade de captar uma emissora de Trinidad e Tobago ( 90.5 FM da cidade de Port of Spain); esta chegou com um sinal tão claro que fui capaz de gravar boa parte da programação de música indiana que ela transmitia!
Mas não pára por aí. Nem só de propagação transequatorial vive o FM-DX… As chuvas e temporais, por exemplo, dão uma tremenda ajuda. Preste atenção nos novos sinais que eventualmente surgem na faixa após uma chuva com muitas descargas elétricas. Já consegui captar algumas emissora de Santiago do Chile (!) por duas vezes nessas mesmíssimas condições.
É interessante notar um fenômeno intrigante com respeito a esse tipo de propagação. Muitas vezes ocorre de você sintonizar diversas emissoras de uma mesma cidade ou região após uma chuva ou em dias de tempo nublado; isso ocorre justamente porque há uma “faixa nublada” entre a cidade cujas emissoras você está ouvindo e a sua. Por exemplo, se há uma faixa nublada que vai de Curitiba a Assunção (Paraguai), é bem provável a captação de algumas emissoras desta cidade paraguaia em plena Curitiba. Só há um porém; isso só vale para distâncias de até 1000 Km.
Outro bom momento para a prática do FM-DX é a tardinha durante o pôr do sol. Mas, o oposto também é válido; muitas vezes de manhã, fora da época da propagação transequatorial e com céu limpo, fui surpreendido por uma “invasão” de estações argentinas e paraguaias no dial, escondidas entre as rádios locais…
Para finalizar, gostaria de reproduzir o recente relato do amigo Rudolf Grimm a respeito de seus êxitos no FM-DX em Urubici (SC), a cerca de 170 Km de Florianópolis, pois ele resume bem o espírito deste artigo: “Numa geografia totalmente favorável, com montanhas para o sul, a leste a oeste, e abertura total para o norte, pude registrar a presença de (…) 33 emissoras da região do Caribe. Algo surpreendente, pois nem mesmo o Cláudio e o Felipe tinham conhecimento de tantas nas escutas em Florianópolis dadas as freqüências locais.” (Atividade DX 200, p. 12)
Não quero dizer com este artigo que as condições de escuta no interior sejam melhores que as do litoral, ou vice-versa. Creio que, respeitadas as particularidades de cada região, as experiências aqui relatadas podem ser vivenciadas por todos aqueles dexistas que tiverem um pouco de paciência e persistência, qualidades indispensáveis para a prática de toda e qualquer modalidade de dexismo. O local certo? Pode ser que você esteja nele neste mesmo momento. A hora certa? Ela pode chegar no exato instante em que você terminar de ler este artigo. Não perca tempo e boas caçadas!
Por Marcelo Xavier Vieira
* Artigo publicado originalmente na versão impressa do boletim Atividade DX