Conversando sobre a propagação
Vamos conversar um pouco sobre propagação, mas conversar de uma maneira mais fácil, sem muito tecnês, e utilizando palavras do nosso cotidiano que nos permitam entender, ao menos basicamente, como funciona esta tão falada propagação, que tantos citam, mas poucos definem com clareza para o público mais leigos no assunto.
Não que eu seja erudito em propagação, longe de mim ser esta pessoa, pois tenho apenas conhecimentos muito básicos sobre isso, mas mesmo assim vou me arriscar a tentar transferir, de maneira bem simplória e simplificada, aquilo que julgo de mais importante neste fenômeno eletromagnético de que tanto depende nossas escutas de rádio.
Para analisarmos o comportamento provável da propagação em um período, não nos baseamos em observações de diversos comportamentos do sol em tempo real, mas sim em projeções destes valores, dentro de um modelo que permita se fazer uma suposição, o mais próximo possível da realidade, que mostre como será o presumido comportamento da propagação. As previsões de propagação são exatamente isso, ou seja, previsões, suposições técnicas de comportamento e não valores reais que ocorrerão com toda certeza. O mais provável é que os valores previstos estejam muito próximos daqueles que se realizam e as condições previstas acabam sendo as indicadas para mostrar o comportamento de um determinado período.
Para termos uma referência básica do comportamento da propagação, podemos partir da análise de três índices básicos que podem nos dar uma boa avaliação do comportamento. Estes índices são: Fluxo Solar, Índice A e Índice K.
Primeiro vamos falar sobre cada um destes índices, de modo a entender um pouco o que eles são e de que maneira podem influenciar a propagação das ondas de rádio.
O Fluxo Solar:
A propagação está diretamente ligada às manchas, que ocorrem na superfície do Sol. Estas manchas, emitem uma grande quantidade de radiação (raios-x, ultravioleta), e é esta radiação que é muito ionizada, dando condições à ionosfera terrestre de se carregar eletromagneticamente, e assim se tornando um espelho refletor, onde as ondas de rádio irão ser refletidas, podendo alcançar distâncias maiores numa emissão.
Em resumo, e de maneira simplificada, se a ionosfera não está ionizada, as ondas de rádio “batem” nela e são absorvidas, não se refletindo. Seria uma ação semelhante ao glacê de bolo, onde você põe o dedo e ele perfura o glacê.
Quem consegue ionizar a ionosfera são as manchas solares, e assim o aumento das manchas solares faz com que seja transferido uma maior quantidade de íons do sol para a ionosfera (ionização vem de íons) e é como se o nosso glacê se transformasse em uma superfície menos porosa e mais refletiva, tal como o vidro de um espelho.
Quanto mais manchas solares, mais ionização, e nosso antigo glacê vai se tornando um vidro de espelho.
Desta maneira, as ondas de rádio, que antes perfuravam o nosso glacê, agora são refletidas pelo espelho em que ele se tornou com a ionização recebida.
O fluxo solar determina diretamente o comportamento da propagação. Sua presença é medida em alguns pontos do globo terrestre, fazendo-se com isso um modelo dos últimos doze meses e através disso calcula-se uma projeção para o período seguinte. Mas o sucesso da projeção somente se dará se o número de manchas solares atingirem os índices previstos.
Quanto maior o índice de fluxo solar, melhores serão as condições de propagação das ondas de rádio, pois por conseqüência a nossa ionosfera estará mais espelho e menos glacê.
Esse índice de fluxo solar já atingiu valores baixos, perto de 65, e em outros momentos valores altos, perto de 350. Atualmente (2009), estamos quase que estacionados em torno de 70 com uma tênue indicação de aumento gradativo, mas muito lento. Porém nada poderá nos garantir que será contínua esta lentidão no aumento do índice de fluxo solar, pois em caso do aumento da atividade solar e o conseqüente aumento das manchas, ocorrerá maior transferência de ionização causando melhora do índice e aumento da propagação.
Além disso, não existem registros históricos de períodos tão longos de baixa atividade solar, tal como ocorreu ultimamente, e desta maneira, existem grandes probabilidades que o nosso Astro Rei volte à atividade, gerando mais manchas e paralelamente melhorando a propagação. Estas são as possibilidades mais realistas de ocorrerem, baseando-nos em modelos do passado.
Os Índices A e K:
A grosso modo podemos definir o índice A, como a quantidade de atividade magnética da terra. É um índice que tecnicamente se define de maneira mais complicada, mas em resumo se trata disso mesmo… É a quantidade de magnetismo que possui o nosso planeta em determinado momento.
Este índice é medido em uma escala linear, que vai de 0 a 400 e quantifica a maneira como a Terra está se comportando magneticamente nas últimas 24 horas.
Já o índice K, que possui uma escala logarítmica (lá vem complicação), é feito tendo como base o índice A e se refere ao comportamento nas últimas 3 horas. A escala do índice K se enquadra dentro de valores que vão de 0 a 9.
De maneira geral, os índices A e K apresentam valores maiores, na proporção em que se vai chegando às mais altas latitudes (nos aproximando dos pólos terrestres). Isso é perfeitamente entendível, se considerarmos que a terra é um grande imã com um pólo norte e um pólo sul e assim, quanto mais perto destes pólos, é esperável que a atividade magnética seja maior.
Analisando de maneira bem simplificada, se considerarmos ter valores de fluxo solar bem altos, em conjunto com índices A e K baixos, termos melhores condições de propagação nas faixas altas de maneiras geral.
Da mesma maneira, sempre que temos índices A maiores que 20 e também índices K maiores que 5 isso indica que o campo magnético da Terra está muito ativo e isso não se reflete em boas condições de propagação, visto que muita atividade geomagnética atrapalha diretamente a ionização que mesmo um fluxo solar alto pode nos propiciar.
Atualmente os valores típicos que temos destes índices são:
- Fluxo Solar em média perto de 70 com alguns picos de 75 e 78
- Índice A com valores médios em 5, com raros a breves picos podendo chegar a 15
- Índice K com média de 2 e algumas poucas variações a 3.
Espero que de posse destes valores e destas explicações bem simplificadas, vocês possam ter uma análise do comportamento atual de nossa propagação.
Um abraço a todos.
Por Adalberto Marques de Azevedo