Lição 8 – Prevendo o comportamento da ionosfera

Em aulas anteriores foram explicadas várias trajetórias de transmissão com a ajuda de uma carta de isocurvas. Esta foi útil para explicar as coisas, porém, para a determinação prática do circuito, necessita-se de um novo jogo atualizado a cada mês, o que resulta em algo muito custoso. No entanto, para que se possa fazer sua própria previsão, basta utilizar os conhecimentos em aulas anteriores de preferência em combinação com um mapa horário mundial e um globo terrestre.

Para encontrar a faixa de frequências em que funciona mais provavelmente uma emissora, tem-se que ter presente o que se segue:

1) Sobre o globo terrestre deve-se unir posições geográficas do transmissor e do receptor com um barbante. Determinam-se os pontos de controle, situados na trajetória de 2000 km tanto do transmissor quanto do receptor. As propriedades refletoras desses pontos determinarão (se a trajetória não for demasiadamente longa) a frequência máxima utilizável.

2) Para achar a frequência mais alta que pode ser refletida nos pontos de controle com incidência oblíqua, deve-se determinar a hora do dia ou da noite para os mesmos enquanto dura a transmissão. Basicamente, há três possibilidades:

a) A totalidade da trajetória estará no hemisfério diurno. Neste caso, a frequência prognosticada será bem mais alta, porque a ionosfera estará submetida a radiação solar direta.

b) A trajetória inteira (do ponto de controle) estará no hemisfério noturno. Neste caso a frequência prognosticada será mais baixa.

c) Um dos pontos de controle estará no hemisfério diurno e o outro no noturno.

3) A estação prevalecente desempenha um papel importante, porque determina os períodos de dia e de noite. Como foi visto, a influência da temporada sobre a duração do período diurno aumenta com as latitudes mais altas.

4) A atividade solar. O melhor método é começar de uma atividade média de manchas solares (R = 70) e acrescentar 2,5 MHz no final do cálculo quando a atividade solar for alta (1968-1969), ou subtrair 2,5 MHz quando a atividade solar for baixa (1973 – 1976).

Vejamos alguns exemplos práticos. Primeiramente a trajetória Sydney-Wellington (Austrália – Nova Zelândia). Só há um ponto de controle situado sobre o Oceano Pacífico, precisamente a meio caminho.

Hora do dia: 12:00 UTC, janeiro. A esta hora, no ponto de controle será 23:00, hora local; portanto, condições noturnas. Em janeiro corresponde ao verão no hemisfério meridional. Os dias são longos e as noites curtas, assim, o grau de ionização da camada F2 é, no entanto bastante alto, tanto mais porque o período de escuridão não dura mais que poucas horas. Tendo estes fatores em consideração, pode-se prever com segurança uma FMU-F2-4000 km algo além de 20 MHz. Como a longitude da trajetória é de uns 3000 km, o que significa que o ângulo de incidência tem que ser um pouco maior que um salto de 4000 km, seria seguro prever o uso de 17 MHz neste horário. Que fique claro que o uso desta frequência não durará toda noite, tendo em vista que a ionização da camada F2 tende a deteriorar-se lentamente. Às 3 da manhã, os 15 ou 11 MHz valerão a pena para a atividade média de manchas solares nesta baixa latitude (Sul) de 37 graus, porém durante os números mais baixos de manchas solares, a FMU decairá para abaixo de 11 MHz.

O segundo exemplo refere-se a trajetória Norte-Sul que cruza a linha do Equador: de Nova York (41° N) a Buenos Aires (35° S). Suponhamos uma baixa atividade de manchas solares e que estabeleçamos as comunicações às 02 UTC em junho. Primeiramente determinaremos os pontos de controle. A hora do dia para eles é aproximadamente 21 h e é verão no hemisfério setentrional. Era de se esperar que a FMU fosse determinada pelo ponto de controle meridional, que seria mais baixo, porém devido à baixa latitude do ponto de controle meridional, que está a aproximadamente 16° Sul, sobre o Brasil, onde caiu a noite a umas 4 horas, existe certa esperança de que servirão os 20 MHz. Em virtude do baixo número de manchas solares, subtrai-se 2,5 MHz, ficando 17,5 MHz. Depois de levar em conta o nível de segurança, prevemos 15 MHz como máximo, ou 11 MHz para este enlace.

Para dar uma ideia da deterioração ulterior da FMU para esta trajetória: às 04:00 UTC será uns 14 MHz e às 06:00 UTC se haverá reduzido a 12 MHz (portanto uma frequência ótima de trabalho de 9 MHz).

Um exemplo final: de Marrocos (34° N, 7° W) a Cingapura (2° N, 104° E). A hora escolhida está na transição dia/noite entre os pontos de controle.

Hora 18:00 UTC
Estação do Equinócio (março/abril ou setembro/outubro)
Número de manchas solares: 70 (valor médio)
Ponto de controle setentrional: 35 MHz, aproximadamente.
Ponto de controle meridional: 26 MHz, aproximadamente.

Agora que sabemos tudo sobre máxima frequência utilizável, aprenderemos sobre a mínima frequência utilizável

DXCB

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